Por que eu fotografo a rua?

Começando a usar o blog para escrever alguns textos, sem periodicidade definida.

Há alguns anos, comecei a fotografar na rua. Tinha um pouco de Bruce Gilden que me interessava muito, mas, ao mesmo tempo, achava que o jeito dele de atacar as pessoas na rua (principalmente mulheres e velhos), com seu flash e sua câmera, era simplesmente escroto. Não me leve a mal, gosto muito das fotos dele, mas essa violência me parece oportunismo. Então, eu fotografava furtivamente, tomando a fotografia de estranhos sem consentimento e a maior parte das pessoas nem notavam que estavam sendo fotografadas. Algumas que percebiam até se irritavam, havendo uma que inclusive chamou a polícia, sem grandes complicações (afinal, como podemos esperar privacidade em público?). E o resultado final me deixava satisfeito.
Há pouco tempo, tentei fazer de forma diferente. Comecei a parar pessoas na rua, totais desconhecidos, com algo em seus visuais que me chamasse a atenção, e a pedir para que elas me deixassem fotografá-las, fazer um retrato (como o Ernesto, aí em cima). E descobri que:
1 - a maior parte das pessoas topa ser fotografada e se sentem lisonjeadas por isso; e
2 - alguma boa história eu acabo guardando sobre cada uma destas.
Essas duas descobertas me fizeram entender uma porção de outras coisas sobre a maneira sisuda que interagimos um com os outros nesta feroz São Paulo e como podemos facilmente derreter o escudo urbanóide com algumas poucas palavras.
Talvez, se eu não tivesse a câmera em mãos, esta troca de palavras poderia ser sem sentido e as pessoas poderiam se sentir um pouco acuadas: “o que este maluco quer comigo?”. Mas com a câmera não, eu sempre tenho a desculpa perfeita para tudo o que eu quero fazer. Inclusive, teve uma vez que subi em cima de um carro de som de grevistas, no centro da cidade, simplesmente dizendo que queria tirar uma foto, sem precisar mentir que eu era imprensa.
Acho que estou entendendo de que o Brandon Stanton, do Humans of New York e o Scott Schuman, do The Sartorialist, sentem ao interagir com desconhecidos nas ruas. Isso de se colocar na situação de falar com um desconhecido gera uma onda de adrenalina incrível e viciante.
E vocês deveriam provar.
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